terça-feira, dezembro 4

Agnaldo Farias, São Paulo (SP)


O texto a seguir é um trecho da palestra que Agnaldo Farias proferiu na abertura do V Encontro Técnico dos Pólos da Rede Arte na Escola, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), em 28 de abril de 1997.

... no filme “Cortina de fumaça”.
Um detalhe no filme me interessou em particular,
por essa relação da arte com o cotidiano da cidade.
Auggie é gerente de uma tabacaria... e um de seus clientes é um escritor... Um dia, Auggie recebe o escritor em casa e resolve mostrar a ele seu trabalho fotográfico, que consiste no seguinte:
todos os dias, às 8 horas da manhã, há muitos anos, ele coloca a câmera fotográfica exatamente no mesmo lugar, na mesma posição, e bate uma foto.
De principio, o escritor fica passando em revista os vários cadernos fotográficos, vai folheando, dizendo que está achando interessante, vai virando, virando, virando as páginas. Até que Auggie diz: "Mais devagar, você não está olhando".
O escritor responde: "Mas é tudo igual".
E o fotógrafo insiste: "Não. Não é tudo igual, olhe com atenção".
Só então, à medida que vai desacelerando o olhar,
o escritor começa a observar as nuanças,
perceber as diferentes luzes,
nas diferentes épocas do ano.
Ele vai vendo as pessoas retratadas e, enfim,
vê a própria mulher que foi assassinada.
Aquilo é surpreendente, e ele não se controla e começa a chorar.
Esse momento é muito tocante,
é muito forte a surpresa de que aquilo que interessa é o detalhe,
desde que se esteja atento.


Agnaldo Farias é crítico e curador de arte, mestre e doutor em História da Arte e professor da Escola de Arquitetura da USP (SP)

Um comentário:

Bárbara disse...

Graça!

Não sei onde coloquei seu e-mail! rs
Assim fica difícil lhe mandar fotos..
Entre em contato de novo, sim?

Beijos